quinta-feira, novembro 3

October

Chegaste chuva forte de começo de fevereiro e me prolongaste o inverno. Minha vida estendida no varal ainda secava a chuva do ano passado quando teu amor molhou o telhado, escorreu pelas bicas, caiu no chão do quintal e limpou as sujeiras, escondeu as formigas, regou as pedras e lavou as cadeiras lá fora. Vieste de frente e fria, vieste de mar, vieste e tuas nuvens ultrapassaram a serra, vieste de noite e treva. Vieste trovões de março, vieste calma de abril, vieste flores de cana-de-açúcar em maio, vieste vento frio de junho. Vieste na minha cama onde era outubro há mais de um ano.
Não lembro se trouxeste a chuva, ou se foi ela que te trouxe, mas sei que parecia começo de fevereiro e eu te chamei pra entrar. Desculpa molhar tudo, você disse. Porque vieste com um amor de perigo e penhasco, eu perguntei se querias entrar, foi mais ou menos assim, molhaste tudo, nós sentamos e falamos do tempo. Surpreendentemente, eu lembro, lá fora tudo se acalmou, mas aqui dentro ainda chove e a previsão é de fartura e inundação por longos meses.

Nenhum comentário:

Postar um comentário