sexta-feira, janeiro 20

Par ti

Sinto um frêmito por debaixo dos meus pés e é como se pisasse em formigas que precisam se esconder da chuva, trago besouros medrosos dentro do bolso da calça e meu cabelo é feito de teias de aranhas que não querem voltar pra casa. Só sobramos aqui eu e as árvores tristes e secas e seus galhos deformados não têm pra onde nem pra quê crescer. Ao meu redor há ninhos pegando fogo, até nascer já foi proibido. Meu corpo é o único terreno fértil que sobrou nesse lugar e eu tenho medo das águias que carregam sementes no bico à procura de onde plantá-las. Me recuso a fincar minhas raízes nesse chão, então sigo as folhas em apostasia e vamos guiados pelo vento que assobia ensinando por onde ir. Há em mim mil garças pedindo um céu e um horizonte. Tenho vontade de migrar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário