sexta-feira, janeiro 20

Três canções pra tua volta

há de vir varrer meus dias sujos de saudade, deitar meu corpo cansado no chão da cozinha e esculpir minhas coxas com seus dentes. há de se demorar entre meu umbigo e meu seio, amanhecer em meu ventre e envelhecer em meu colo. há de amansar meu amor dolorido de teu desprezo e acalmar minha alma amedrontada pelas tuas certezas que só chegam atrasadas. há de saber a que veio e quanto tempo vai ficar. há de chegar morno numa manhã fria, deitar em meus pés e, por favor, tentar não fazer merda dessa vez.

sob os teus pés o piso, o passo, a pressa e a vontade de chegar logo. teu amor tardio saberá por onde passar e ouvirá no meu quarto o silêncio de túmulos e sentirá debaixo do meu queixo um gosto de fim. verá que, se tivesse chegado cinco minutos mais tarde, me encontraria delicado inseto caído no chão, morto, esperando que sentisses fome, ou saudade.

amanhã virás e as flores estarão proibidas de se abrir até que venhas. risco mais uma linha na parede e sincronizo o relógio ao teu tempo certo de novas chegadas. te aguardo resignado e contente e deito no chão que sente tua presença e treme quando ouve teus passos que ainda não aprenderam meus caminhos. porque quando não vens, é mais que espera, é dor de parto ao contrário, é te fazer nascer pra dentro de mim, é parir ao revés um amor que não existe no mundo de fora.

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