quarta-feira, fevereiro 29

Irresgatável

Sem que nenhum dos dois entenda como, o navio se desprende da âncora e sai da rota, desmorona e se desmonta, perde suas partes, se reparte e parte numa corrente pelos mares que nenhum dos dois jamais sonhou nadar. O navio é ruína a céu e mar abertos, mas dessa vez é ele que insiste em ficar até ter certeza que não há mais nada a ser feito – é uma vergonha desistir agora. Ela, na margem, tem nas mãos o contrato que quase já pode ser rasgado, mas lhe falta uma bússola, um mapa, uma carta de recomendação ou pelo menos um presságio do que será ou virá em seguida. Ele, corajoso capitão e pirata que jamais se rende, agora abre os braços e calmamente permite que o inevitável fim o leve. O peito onde ontem ela dormiu hoje sozinho encara o naufrágio.

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